sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Puccini, o impressionista

Muitos chatos, geralmente tarados por Verdi, dão de ombros: Puccini, música menor. Música sentimental burguesa, trinados de cristal e alcova, Sèvres e chá das cinco, etc.
Puccini é um impressionista da ópera. Vejamos o sublime Vogliatemi bene, dueto da Madame Butterfly, perversão/ recriação da melodia infinita wagneriana no universo do melodrama estertórico sala-e-cozinha: aniquilação de uma geração inteira no êxtase da hemoptise e da água –furtada.
Simulação vertiginosa do espaço imaginário- a face de Jano do teatro social - pelo travesti que o habita, e cuja função é decalcar-lhe os ritos, amplificar-lhe os ritmos, nuançar-lhe a pressão e estimular-lhe o caráter abrasivo e excitante.
Em Puccini, vale a regra masoquista: o gozo ou a dor não diferem em natureza, mas na pressão exercida. O estímulo do prazer a meio caminho entre a transgressão e a regra, sua face porosa e intercambiável. No link, Kabaivanska, talvez a mais sublime Butterfly do nosso século e Nazzareno Antinori como um marmóreo Pinkerton na Arena de Verona. Ouçam também a gravação com Callas e Di Steffano, regida por Serafin, talvez uma versão mais exuberantemente “wagneriana” do dueto.


http://www.youtube.com/watch?v=v2oNJRTkonM