Nunca se gritou tanto na ópera quanto Salomé, nunca se arquejou e se gangrenou tão maníacamente a matéria da voz, as margens das coxias e dos tímpanos . Mas nas quatro últimas canções, e sobretudo neste arco debruçado sobre o dorso da dissolução- representada essencialmente no uso adstringente wagneriano- que é Friüling, temos uma nota nova, para além e para aquém do gozo masoquista que é o spleen da decadência; um conjunto de notas, na verdade. Esta nota é exprimida naquela epígrafe- ou epitáfio- que Holderlin apõe a seu Empédocles: No perigo- na dissolução- reside a salvação. Na agonia, o anjo de Friüling encontra a reconciliação. No face a face com os limites, o apaziguamento da vontade, voto schopenhaueriano; na dizimação e na entropia, a expansão cósmica e a luxúria do Nada. Esta face imprevista- ma non troppo- da decadência de Strauss é o suspiro do moribundo- suicida- perante o mundo que finalmente se digna a abandoná-lo. No link abaixo, Margaret Price numa versão menos cósmica e mais soturnamente acadêmica das obras-primas de 1948. Mas tentem ouvir Janowitz cantando isso e entenderão o significado da expressão canto do cisne.
http://www.youtube.com/watch?v=P1AvXOXhjmY
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Um comentário:
necessario verificar:)
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