Se eu tivesse de contrapor o tempo escatológico ao tempo vulgar e imanente de todos os dias, eu definiria essa oposição por um exemplo. No tempo mundano, perguntamos a um sujeito na rua: Que horas são? No tempo escatológico, indagamos , na mesma rua e ao mesmo sujeito: Você já salvou a sua alma? É este tempo Absoluto, este tempo estigmatizado unicamente pelo limiares do Fim e do Princípio, tempo vertical e interpolado por todas as dimensões subjacentes às Escalas da Ordem e da Eternidade, que Handel representa em sua música.O profetismo, dom e opróbrio característico deste tempo, é o limiar de sua experiência histórica ( se História há). Apreendemos ( e somos apreendidos por) os ultrasons, as sub-ressonâncias, os apelos intersticiais, as finíssimas cicatrizes do Sempiterno. Aqui, nada de meio-termo ou grau: enterrados no Eterno até os ossos, acumpliciamo-nos com os atributos dos anjos e dos mitos primevos: a intangibilidade, a implausibilidade, a imarcescibilidade e a inelutabilidade de tudo o que jaz em nós, desde sempre e para além de nós. ( Excelsus Dominus).
Eis a grande descoberta de Handel- que são os óbulos do vidente às suas vozes interiores: Com Rauco Mormorio, Dull Delay in Piercing, Scenes of Horror. Esqueçam o verso seguinte: For now is Christ risen from the dead, the first fruits of them that Sleep; o que deve ficar- o que resta- é o início do versículo: esta concupiscência da carne estagnada, que aspira à podridão e ao caos como o invólucro quintessencial da Contemplação de Deus.
Esqueçam também o que disse acima; ouçam apenas a trompa de caça Maureen Forester, contralto magnífica. Nela, a profundidade e amplidão abissais –assim como o preciosismo, a untuosidade, o esplendor fúnebre e o o entusiasmo cromwelliano da Puritana - da música sacra de Handel encontram uma rival à altura.
No link, Lynne Dawson, modesta e circunspecta como um querubim, canta I know that my redeemer Liveth.
http://www.youtube.com/watch?v=qtU1c5JZf0k
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